Muito tenho ouvido falar da tecla “Foda-se”.
Confesso que algumas vezes dou um click nela. mas ultimamente não sinto-me muito confortável ao fazê-lo, e tenho me perguntado;-
Onde fica o outro?
Esse outro que me ajuda a me ver,
onde fica esse olhar diferenciado que me permite ampliar a visão?
Gilberto Velho ( mais uma perda – foi-se ontem ) diz que a noção de outro, ressalta que a diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através das dinâmicas das relações sociais, e que assim sendo, a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito.
E eu,
em que ser me torno quando não suporto tal conflito,
e jogo a criança junto com a água do banho?
Apertar a tecla é desrespeitar o outro, seu repertório, sua história, seu pensar, e pesar.
O outro me dilacera, mas me faz refletir.
Não enfrentar.
Não fugir.
Transcender.
Envolver-se e Desenvolver-se.
Porque a segurança, mora dentro e não fora.
Apertar a tecla, e o que fazer com o discurso de ser capaz de relacionar-se com toda diversidade?
Ouvimos por tanto tempo o discurso sobre a individualidade, da singularidade.
E singularidade pressupõe ser singular, ser diferente, ser único.
Se o outro, em seu desejo, quiser que você seja igual, por que isso ameaça sua segurança?
Ele te ameaça, e você aperta a tecla. É isso?
Judeus são bizarros. E macumbeiros, muçulmanos, protestantes, neo pentecostais são o quê?
E o que falar dos que falam com espíritos? E os católicos de tantas tribos?
E por falar em tribos, que tal os índios? E os roqueiros, os travestis, as prostitutas, os feirantes, as madames, os estudantes, os mendigos, os ricaços, os artistas, os jogadores de futebol, os padres, as freiras…
Eta gente esquisita!
E eu?
No meu espelho?
E você, ai?
Hein?
Melhor trabalhar nossa insegurança, e apertar menos vezes essa teclinha, pois ela pode emperrar, e ficar definitivamente no automático.