Quero falar do silêncio. Quero quebrar o silêncio que gira em torno do silêncio.
Quero silenciar conceitos, gritar que não quero!
Não, eu não quero gritar mais. Não é mais tempo de excessos.
Desde de Delphos não o é, mas teimamos, desobedecemos o oráculo, as leis, as regras, as normas.
Por que a enfermeira com o dedo indicador atravessa os lábios, e atravessa corredores de hospitais?
Necessário?
Por que o professor precisa pedir silêncio?
Não se está lá para ser ouvido?
Muitos não sabem, e não sabem que não sabem.
Por que o silêncio não pode fazer parte da festa, do dialogo, dos encontros, do namoro, do amor?
Por que não deixamos o silêncio presentificar e o interrompemos com frases tolas;
Nossa! Você viu aquilo?? Será que chove hoje? Quer água? Café? Algo?
Muitos não o suportam.
Por que chegar em casa e expulsá-lo?
Ele que ficou nos aguardando ali solitário o dia todo. Ligamos a tv, o rádio, o celular, os cambau. Ligamos qualquer coisa pra não nos ligarmos em nós.
Nossa carência não o suporta e muitos a cultivam.
Quero, como cantou Elis, o silêncio das línguas cansadas.
Muitas vezes acordo no meio da noite, não como Bilac para ouvir e entender estrelas, mas para ouvir o silêncio.
Quero essa magia. Não sempre, mas quero!
Quero mergulhar no silêncio e descobrir minhas verdades.
Quero que ele possa existir em minha vida junto com as conversas animadas, com o choro.com a música, porque como dizia Aldous Huxley; depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexpressível é a música.