Esta carta tinha a pretensão de ser uma carta de perdão. Onde eu te perdoaria, pai, por tanto abandono, por tantos desencantos, decepções. e, por uma fraqueza desmedida.
Mas após as primeiras palavras, percebi a falácia.
Eu não tenho nada a perdoar.
O que eu preciso, é perdoar a mim, por ter permitido que o mal que você fazia a si mesmo me ferisse tanto.
Você, afinal de contas, fez mais mal a si próprio do que a qualquer outro ser.
Até hoje, percebê-lo sofrendo, me machuca demasiadamente, ainda…
Por isso essa carta…
” Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” canta sabiamente Caetano.
A fraqueza que você não pode, não quis, não soube transformar em fragilidade, ou vice-versa, foi o seu caminho, ou como é bem atual dizer, fez parte do seu processo.
O mal que eu me fiz com o mal que você se fez, faz parte do meu.
Hoje quero ser responsável por uma “Virada Cultural” em minha vida; não vai haver ópera, quero banir o exagero da minha vida .Drama tampouco.
Quero circo!
Quero máscara sim, pois preciso dela. Mas quero a de palhaço.
Quero me encantar com a alegria da vida. E quero respeito ao palhaço, e às palhaçadas; foram necessárias.
Eu cresci, e hoje sei subir ao picadeiro, graças pai, ao que permiti aprender contigo.
Hoje quero encher a cara de vida, do álcool do espírito, e me lambuzar com as balinhas que você trazia escondidas na sua mão sofrida.