O rio Tietê nasce límpido e cristalino mas no seu trajeto vai recebendo toda sorte de lixo e esgoto.
Eu que amo as metáforas encontrei uma aqui pra dizer das pessoas que vivem numa dinâmica parecida: vivem num rio onde foram jogadas crenças, verdades acabadas, dogmas, conceitos, jeito de agir e pensar, moral, bons costumes e toda sorte de certezas.
E chamo o povo que lá vive de “povo do rio”.
Quem me conhece, conhece esse termo.
Embora não precise, mas em tempos de tantas normas, regras e leis, não me refiro aqui aos cariocas, é claro, mas aos rio descendentes.
Poderia também chamá-los de povo da caverna numa alusão a Platão, mas ele já criou a sua metáfora, agora é minha vez, mas acho interessante quem não conhecer buscar no Google sobre a Alegoria da Caverna, ou na República de Platão, enfim…
Quando eu Miriam me refiro ao povo do rio quero falar dos que estão aprisionados pelas suas crenças, pelo sucesso, pelos tantos crachás que usam, pelos processos grupais, pela busca desenfreada por aceitação, aplauso, elogios, troféus, pelo raciocínio presumido, pelas ilusões.
Presos à própria história, a traumas, e velhas dores.
Povo do rio a meu ver é o povo sem coragem de enfrentamento, de encarar mudanças, de encarar a verdade de si mesmo.
O que encontram no caminho que lhes foi vendida como verdade, compram-na e passam a defendê-la como conquista.
Ás vezes a mascaram, a travestem de brilho e purpurina quando sabemos que muitas vezes é de andrajos que se veste.
Eles andam em bando, pensam em bando, comem em bando, vestem-se com as mesmas penas: anseiam por serem iguais.
Estão aprisionados em suas prisões psíquicas sem perceberem que são portadores da chave.
Mas há um convite.
Convite de nossa alma para abandonarmos esse rio tão poluído pela mesmice, pela escravidão, pelos preconceitos, pela escuridão própria de rios sujos.
É o convite pra ir pra margem onde nos desplugaremos de tudo isso e nos ligaremos a nós mesmos e dessa forma assumiremos toda e qualquer responsabilidade por nossa vida.
Na margem não seremos mais vítimas, mas senhores de nosso destino. Passaremos de objeto a sujeito de nossa oração.
Pareceremos loucos, eu sei, porque não aceitamos que 1+1 é igual a 2, porque muitas vezes não é.
Encontraremos lá a singularidade, a magia, a alegria genuína, a espontaneidade, e perceberemos que a verdade caminha tranquila beirando o rio.
Mas na margem seremos vistos como marginais pela massa, pelo povo do rio, e tal qual na alegoria de Platão não seremos bem vistos, bem recebidos e muito menos compreendidos.
Quiça nos “matem”.
Mas o convite, lembremo-nos nós, veio da alma.
E ninguém pode deixar de ir a essa festa!
Podemos ir para a nascente do rio, e buscar viver na fonte, mas disso eu não sei falar, porque conheci poucos muito poucos que ali vivem bebendo da fonte todos os dias de suas vidas.