Frase maldita, literalmente mal dita. Equivocada. Cheia de arrogância, pretensão, e cruel.
Quando o pai ou a mãe, ou ambos, diz um para o outro, ou “dita em silêncio que grita pelos olhos”, de qualquer forma que for dita, quer ser presumida pelo agente como um ato de humildade, chamando para si, toda a responsabilidade do “erro”. E ao dizê-la, não percebe (não percebe?) que julga e condena o filho como um erro. Foi cometido um erro; o filho!
Empatia, compaixão – palavras semânticamente vindas da mesma origem; pathus que fala de dor – são sentimentos esquecidos, vilipendiados em favor do orgulho e da vaidade; “Não posso ostentar meu filho como um troféu… Ele é um erro”.
Con – versar, ou seja, ver o verso junto, é exercício excluído de tal relação. É. Estou falando da relação de amor que deveria existir entre pai e filho, mãe e filho, sim. Rever a questão familiar; o que somos? Quem somos? O que significamos juntos? Quem é esse ser que veio frustrar todas as nossas expectativas? Por quê? O que você, meu filho sente em relação a isso? Pergunta que deveria vir junto com outra; “Por favor, me passe o sal?” Sim, porque falo de naturalidade. Por que se alguém me perguntar o que eu sinto em relação à heterossexualidade, como boa loira que sou vou responder; “HÃ???”
Nenhum vestígio de intimidade aparece. Nenhum vestígio de amor, de acolhimento, aceitação do outro como é, Nada! Apenas a voracidade de subir ao pódium e mostrar o prêmio: “Meu filho!!!! Eis aqui o meu filho, concebido, educado, e moldado como vocês queriam para nos premiar…”
Nada disso será possível, pois foi cometido ” um erro”.
As perguntas que deveriam ser feitas são “Estou pronto pra gerar?”, “Estou pronta para a maternidade?”
Antes que qualquer erro seja cometido, não foram feitas.
Gerar é imitar o sagrado, é compactuar com o de mais caro que há na Natureza. Geramos filhos de Deus, e não girinos que etapa por etapa nos são revelados.
Ao gerar seres humanos, deveríamos estar prontos para o amor.
Na Antiguidade, filhos representavam a perpetuação do poder, do sustento, da continuidade do nome e Darwin diria; da espécie.
E hoje? O que representam? O que significam? Creio que a resposta precisa precise de uma investigação antropológica à qual não tenho acesso. Mas a minha questão é a questão apenas. Só quero perguntar, perscrutar, balançar, e fazer pensar.
Uma certeza eu tenho ao observar a sociedade; muito poucos filhos foram gerados pelo e por amor.
Pais querem acertar, mas acertar seria produzir normais. Repetir. Aquilo que já está no gabarito como resposta certa. É verificar já na maca da maternidade se todos os dedinhos estão lá e depois o pipi. Se houver pipi, uma reação, se não…
(Trecho do próximo livro que publicarei)