Fui certa vez à sala São Paulo assistir a apresentação de uma Orquestra (não sei se Sinfônica ou Filarmônica, não entendo a diferença, até já li, mas esqueci, mas o Google está aí pra quem quiser ampliar conhecimento).
Era minha primeira vez. Fiquei em êxtase. É um espetáculo de uma grandeza ímpar e de uma emoção inenarrável. Espetáculo de arte e vida. Uma das mais belas formas artísticas de nossa civilização. Através da orquestra, é possível vislumbrar a engrenagem de dezenas, centenas de instrumentos em harmonia.
Assim, num conjunto orquestral se encerram valores de uma grande sabedoria intrínseca; a responsabilidade de cada um em gerar essa harmonia para o conjunto.
Tudo isso eu observei, ao mesmo tempo que sentia a emoção.
Logo ao voltar pra casa, comecei a escrever (é minha sina), sobre o que vi e senti, e logo, é claro comecei a fazer analogias, metáforas.
Tenho uns amigos que me chamam de Rainha das Metáforas.
Metáfora é um termo derivado do grego Meta – uma passagem, uma transição de um lugar a outro; e Phorein- mover ou carregar.
As metáforas nos transportam de um lugar para o outro; elas nos permitem atravessar fronteiras que de outra forma estariam fechadas para nós.
Verdades espirituais que transcendem o tempo e o espaço só podem ser transportadas em veículos metafóricos, e os grandes mestres sabiam bem disso.
Eu as uso para facilitar o entendimento de assuntos às vezes áridos, ou de difícil assimilação.
Vou então usar a Metáfora da Orquestração para falar de nosso funcionamento.
Uma orquestra, percebi e depois confirmei, é composta por quatro ou cinco blocos de instrumentos, dependendo da necessidade da peça a ser executada;
– As Cordas
Constituídas pelos delicados violinos, violas, os sensuais violoncelos e contrabaixos, que precisam do dedilhado dos músicos para produzir o som.
– As Madeiras
Nessa categoria se encontram as encantadoras flautas, oboés, clarinetes e fagotes.
Apesar das flautas transversais serem de metal, antigamente eram feitas de madeira e foram mantidas nesse grupo.
Aqui o sopro é necessário pra produzir o som.
– Percussão
Entre os mais usados estão os tímpanos, pratos, gongo, tambor, triângulo, xilofone, marimba e vibrafone. Para conseguir o som desta vez, é necessário o agito do instrumento ou a percussão.
– Os Metais
São os diferentes tipos de corneta; trompetes, trompas, trombones e tubas que também precisam do sopro para emitirem som.
Assim como tudo, esses todos instrumentos precisam de uso e cuidado pois se abandonados perdem a capacidade de produzir som e sofrendo a invasão dos elementos, arrebentam-se, desafinam, perdem a ressonância. Deixados em mãos inábeis perdem a finalidade e o valor.
Mas se manipulados com o respeito devido, devolvem ao músico a harmonia e a beleza da música.
Tudo é uma questão de cuidado, afinação, atenção e técnica.
Associei então o funcionamento de nossas partes às partes da orquestra.
Há muitas instâncias em nosso mundo interior, não somos tão simples como pensamos.
Em nós existe uma legião que se não for bem administrada pode nos levar ao caos.
Tentar adentrar nosso mundo interior é seguir a instrução do famoso Oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”.
E se não nos conhecermos, se não lidarmos com todos os nossos instrumentos, se não nos afinarmos não haverá harmonia em nossa vida.
Jung nos fala sobre individuação, que seria a possibilidade de nos tornarmos nós mesmos, o que fomos destinados a ser e esse é um processo inexorável.
Jesus nos convidou a sermos perfeitos como o Pai que está no céu, sendo que perfeito, segundo algumas traduções significa íntegro – no sentido de integralizado,
ou seja, seremos perfeitos quando integralizarmos todas as nossas partes, e só dessa forma poderemos ser fiéis a nossa natureza e nos tornaremos indivíduos, seres que não se dividem e sim se integram.
A Mente associei aos Metais
É o aspecto mais consciente de nós, é o que tem o receptor na cabeça, responsável por nossos pensamentos, raciocínio, atenção, concentração, imaginação.
Esse aspecto precisa ser estimulado, usado, nutrido do contrário se anula e na sua ausência ocorrem as demências, tal como o Alzheimer. Pois tudo o que não usamos, atrofia, enfraquece e pode até desaparecer.
Se a mente não for usada de forma adequada, o raciocínio fica desafinado.
Mas é preciso que haja a justa medida, como em tudo.
Imagine uma orquestra onde só os Metais atuassem. Seria enlouquecedor. Só barulho!
O Corpo associei à Madeira
O corpo tem um desenvolvimento e um funcionamento próprio. Tem arbítrio.
Ele sozinho cuida da respiração, da digestão, da circulação, do batimento cardíaco, do nosso dormir e acordar, da nossa performance sexual e procriação. Ele tem sua própria sabedoria.
É nosso instinto, nosso Bicho, é a Natureza atuando em nós.
Se o intelecto tivesse que dar conta do funcionamento desse Bicho, a vida não seria possível.
O intelecto seria capaz de perceber a quantidade exata de oxigênio necessária as nossas células?
O que comandaria o movimento de sístole e extra sístole?
E quem comandaria o cérebro? Ele próprio?
Percebemos que a Natureza que nos criou é perfeita, criou também esse mecanismo que estou chamando de Bicho pra ficar mais fácil o entendimento e que tem um papel preponderante em nossa vida.
Ao Ego associei à Percussão
É o centro de nossa consciência e como tal, faz a mediação entre o que é consciente e o que é inconsciente.
Necessário.
È o defensor de nossa Personalidade que por sua vez faz parte da nossa construção social, nossa Identidade. Necessário para lidar com as questões do mundo exterior; instituições, família, relações…
Vou deixar pra falar das Cordas/Alma na próxima publicação, pois me advertiram que ninguém lê artigos longos que são cansativos blá blá blá… e também pra fazer um certo suspense, e fazer com que você reflita…